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terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Apocalipse - Capítulo 7- Os 144 mil e a Grande Trilulaçao
“No mundo tereis aflições. Mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo.”
João 16:33b.
Após a abertura do sexto selo, em que um grandioso colapso de dimensões cósmicas prenuncia os juízos de Deus sobre a terra rebelde (6:12-17), João recebe uma nova visão: Quatro anjos que estavam nos quatro cantos da terra, retinham os ventos, para que não soprassem naquele momento. Enquanto os ventos são contidos, outro anjo emerge do lado do sol nascente, trazendo consigo o selo do Deus vivo. Este anjo ordena aos outros que não danificassem a terra e o mar até que os servos de Deus fossem selados em suas testas. Segundo o relato do vidente João, os que foram selados contavam 144.000 de todas as tribos de Israel. De cada uma das doze tribos, doze mil eram selados. Essa imensa multidão representa a totalidade dos santos do povo da Antiga Aliança. Neste texto, confirma-se o que profetizou Isaías: “Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo” (Rm.9:27; Is.10:22). E este “Remanescente” é segundo “a eleição da graça” (Rm.11:5). Ninguém é salvo meramente por ser judeu. Somente os que foram eleitos para a salvação serão salvos, a despeito de sua nacionalidade.
“Depois destas coisas” prossegue João, “olhei e vi uma grande multidão, que ninguém podia contar, de TODAS AS NAÇÕES, tribos, povos e línguas, que estavam em pé diante do trono e perante o Cordeiro, trajando compridas vestes brancas, e com palmas nas mãos” (Ap.7:9). Agora o leque se abre, e João consegue vê a totalidade dos santos, tanto os dentre Israel, quanto os dentre os gentios. A estes também são dadas vestes brancas que representam a justificação mediante o sacrifício de Cordeiro de Deus.
Perguntado acerca da identidade e da proveniência daquela gente, João preferiu não arriscar qualquer palpite, e disse ao que lhe perguntava: - Senhor, tu o sabes. Pelo que o ancião lhe respondeu:
"Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono estenderá o seu tabernáculo sobre eles. Nunca mais terão fome; nunca mais terão sede. Nem sol nem calor algum cairá sobre eles. Pois o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e os conduzirá às fontes das águas da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima.”
Apocalipse 7:14-17.
Esta “Grande Tribulação” é a mesma sobre a qual Jesus fala em Seu sermão profético. Ali, Ele diz que haveria então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até aquele momento, nem haverá jamais (Mt.24:21). Eis uma das razões porque não cremos em uma grande tribulação futura. Cremos piamente que a Grande Tribulação se deu nos primórdios da era cristã, e consistiu na implacável perseguição promovida pela Roma Imperial, instigada, inicialmente, pelos judeus incrédulos.
Daniel profetiza acerca desta perseguição, quando diz que o quarto grande império (Roma) “fazia guerra contra os santos, e os vencia, até que veio o Ancião de Dias, e foi dado o juízo aos santos do Altíssimo, e chegou o tempo em que os santos possuíram o reino (...) Proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e as leis. Eles serão entregues nas suas mãos por um tempo, e tempos, e metade de um tempo. Mas o tribunal se assentará em juízo, e lhe tirará o seu domínio, para o destruir e para o desfazer até o fim. O reino e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo. O seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão” (Dn.7:21-22,25-27).
Por que Deus permitiu que os santos primitivos fossem vencidos pela perseguição do Império Romano, e dos judeus? Porque desta forma, tanto Jerusalém, que é representada no Apocalipse como a Grande Babilônia, quanto Roma seriam julgadas pelos mesmos santos que nelas e por elas haviam sido martirizados. Os cristãos primitivos sabiam disso perfeitamente. Eles se lembravam das célebres palavras de Cristo: “Na vossa perseverança ganhareis as vossas almas” (Lc.21:19).
Foi o próprio Deus quem permitiu que o Império Romano fizesse guerra aos santos, e os vencesse. Por isso, os cristãos se dispunham a sofrer pelo testemunho de Jesus. Afinal, “se alguém deve ir para o cativeiro, para o cativeiro irá. Se alguém deve ser morto à espada, necessário é que à espada seja morto. Nisto repousa a perseverança e a fidelidade dos santos” (Ver Ap.13:7-10).
E o resultado desta perseverança foi o juízo de Deus sobre Jerusalém, a Cidade Infiel. “Caiu, caiu a grande Babilônia (...) A fumaça do seu tormento sobre para todo o sempre (...) Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. Então ouvi uma voz do céu, que dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que DESDE AGORA MORREM NO SENHOR. Sim, diz o Espírito, descansarão dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanharão” (14:8b,11a,12-13). Por que razão os que morressem a partir da queda de Jerusalém seriam bem-aventurados? Porque agora, tendo caído a Jerusalém terrestre e o seu soberbo templo, os portões da Nova Jerusalém estavam plenamente abertos, e o caminho do Santo dos santos inteiramente descoberto (Ver Hebreus 9:8-9). A partir de então, os santos de todas as eras estariam reunidos diante do trono para todo o sempre, reinando com Cristo, e exercendo com Ele o juízo sobre as nações.
É precisamente sobre esta “reunião” que Paulo fala em sua segunda carta aos Tessalonicenses (2:1). Quando Cristo veio em Juízo sobre Jerusalém, os santos na glória foram reunidos, e o que a Igreja na terra “ligou” já havia sido ligado no céu. Tal reunião (grego: episynagoge) só se daria quando o número dos mártires fosse completado, e a medida do pecado daquele povo fosse alcançada. Por isso, os crentes primitivos se regozijavam na perseguição. Para Paulo, tal gozo nada mais era do que a “prova clara do justo juízo de Deus, e como resultado sereis havidos por dignos do reino de Deus, pelo qual também padeceis. Deus é justo: Ele dará em paga tribulação aos que vos atribulam (os judeus), e a vós que sois atribulados, alívio conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo. Ele tomará vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Eles por castigo padecerão eterna perdição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos, e ser admirado em todos os que creram, naquele dia ( porque o nosso testemunho foi crido entre vós )" (2 Ts.1:5-10).
Paulo não se refere à Segunda Vinda de Cristo. Ele está falando do Juízo de Deus sobre Jerusalém. Eram os judeus que atribulavam os crentes Tessalonicenses (ver At.17 e 1 Ts.2:14-16). O castigo que eles receberam não foi apenas a queda de Jerusalém, mas também o fato de serem rejeitados como povo de Deus, sendo espalhados mais uma vez por todo o mundo (Amós 8:2; 9:8). Aqueles foram dias de vingança da parte de Deus para com o Israel apóstata (Lc.21:22).
A Coroa que hoje está sobre a cabeça da Igreja, um dia esteve sobre Israel. Cabia àquela nação ser o instrumento da Justiça de Deus sobre os demais povos da Terra. Mas Israel caiu em contradição. Aquilo que condenava nas demais nações, Israel começou a praticar. Por isso, tornou-se a grande prostituta. Paulo aborda isso em Romanos 2: “tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, pensas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? (...)Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus (...)Mas tu que tens por sobrenome Judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei; e confias que és guia de cegos, luz dos que estão em trevas, instruidor dos néscios, mestre das crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei; tu, pois, que ensinas a outro, e não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, roubas os templos? Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós”(Rm.2:3,5,17-24).
Jeremias, antevendo a queda definitiva de Jerusalém, profetizou: “Como jaz solitária a cidade outrora tão populosa! Tornou-se como viúva, a que foi grande entre as nações! A princesa entre as províncias tornou-se escrava(ver Gl.4:25). Amargamente chora de noite, e as suas lágrimas lhe correm pelas faces. Não há ninguém que a console entre todos os seus amantes (...) Jerusalém gravemente pecou, por isso se fez imunda (...) Rejeitou o Senhor o seu altar, e abandonou o seu santuário (...) Mas isso aconteceu por causa dos pecados dos profetas, e das maldades dos seus sacerdotes, que derramaram o sangue dos justos no meio dela (...) Estava chegando o nosso fim, estavam cumpridos os nossos dias, pois era chegado o nosso fim (...) CAIU A COROA DA NOSSA CABEÇA. Ai de nós, pois pecamos” (Lam.1:1-2a,8; 2:7; 4:13,18; 5:16).
Por quê caiu a Coroa da cabeça de Israel? Porque seu povo rejeitou a justiça que vinha do céu (Rm.10:3). Pregavam uma coisa, e viviam outra. Como poderiam as nações viverem à luz de uma nação impenitente? Jerusalém se prostituiu com os reis da terra, e assimilou suas abominações, seus costumes, e seus pecados. Como Jesus havia predito, o Reino foi tirado de Israel, e entregue a um novo povo: a Igreja (Mt.21:43) E cabe a esta nova Nação Santa exercer juízo sobre a terra, e discipular todas as nações.
Agora, afirma a profecia, “os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para sempre. E os vinte e quatro anciãos, que estão assentados em seus trono diante de Deus (simbolizando a totalidade dos santos de todas as eras) prostraram-se sobre seus rostos, e adoraram a Deus, dizendo: Graças te damos, Senhor Deus Todo-Poderoso, que és, e que eras, porque tomaste o teu grande poder, e reinaste. Iraram-se as nações; então veio a tua ira, e o tempo de serem julgados os mortos, e o tempo de dares recompensa aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra. abriu-se no céu o templo de deus, e a arca de sua aliança foi vista no seu santuário...” (11:15b-19a).
Que recompensa os mártires receberam? A mesma que todos os que temem o nome do Senhor recebem! O caminho do Santo dos santos foi inteiramente descoberto a eles, “abriu-se no céu o templo” , e lhes foram dadas coroas e tronos sobre os quais hão de reinar por todas as eras por meio de Cristo Jesus.
João testifica em sua visão:
"Vi também tronos, e aos que se assentaram sobre eles foi-lhes dado o poder de julgar. E vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta (o imperador romano), nem a sua imagem, e não receberam o sinal na testa nem nas mãos. Reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos (...) Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição (a ressurreição espiritual de que participamos em Cristo) . Sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante mil anos.” Apocalipse 20:4,6.
Quando o Cetro de Cristo foi arremessado contra Israel, os santos de todas as eras foram reunidos, e agora, por meio de Cristo, estão reinando para sempre. Os “mil anos” no texto acima, representam um tempo indefinido e longo, e não deve ser entendido literalmente. Tanto nós, que vivemos no início do Terceiro Milênio, quanto aqueles que viveram antes mesmo do primeiro advento de Cristo, formamos uma única assembléia. Afinal, cumpriu-se a predição de Jesus, de que muitos viriam “do Oriente e do Ocidente” e se sentariam à mesa “com Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus. Mas os filhos do reino (judeus) serão lançados fora”(Mt.8:11-12a). O cumprimento de tal predição parece ecoar na afirmação do escritor de Hebreus de que já temos chegado “`a cidade do Deus vivo, à Jerusalém Celestial, e aos muitos milhares de anjos, à UNIVERSAL ASSEMBLÉIA e igreja dos primogênitos inscritos nos céus (...) aos espíritos dos JUSTOS APERFEIÇOADOS” (Hb.12:22-23). Santos de todas as eras tornaram-se um só espírito com o Senhor, e receberam “o reino e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu” (Dn.7:27). Os santos já podem regozijar-se. Os mártires foram vindicados, os sistemas deste mundo foram julgados, e sentenciados. Sua voz ainda ecoa nas regiões celestiais: “Justo és tu, Senhor, que és e que eras, o Santo, porque julgaste estas coisas; porquanto derramaram o sangue de santos e de profetas, também tu lhes deste sangue a beber; são merecedores disto” (Ap.16:5-6).“Exulta sobre ela, ó céu! E vós, santos e apóstolos e profetas! Deus contra ela vindicou a vossa causa” (18:20).
O Efeito Dominó e os Mártires de hoje
A queda de Jerusalém é o prenúncio do desmoronamento dos sistemas deste mundo. Podemos comparar tal fato ao chamado efeito dominó. Uma vez tendo sido desencadeado, não há como impedir que seja concluído, até que caia a última peça.
Jerusalém é o arquétipo dos reinos do mundo. O mesmo Cetro que a derrubou, e que mais tarde fez desmoronar o Império Romano, está em ação hoje. Foi ele quem reduziu a escombros o Muro de Berlim, e com ele, o Comunismo no Leste Europeu. Foi também ele quem derrubou o apartheid na África do Sul, e ainda por cima, fez de Nelson Mandela, de um negro perseguido, o presidente daquele país.
Cada sistema injusto implantado na Terra produz seus próprios mártires. E é ao clamor destes mártires, e daqueles que sofrem sob o peso destes sistemas, que Deus está atento. Às vezes o Juízo parece tardar, mas certamente, ele não será adiado. Sempre que a medida de pecados de uma nação excede, o Juiz de toda a Terra vem em Juízo contra ela.
Foi o clamor dos hebreus escravos no Egito que deflagrou a série de Juízos divinos sobre a Terra de Faraó (Êx.2:23; 3:9). Deus está atento ao clamor daqueles que sofrem injustiças sociais por parte dos que detém o poder econômico e político (Tg.5:4). “Chegar-me-ei a vós para juízo” promete o Senhor, “e serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros e contra os adúlteros, e contra os que juram falsamente, e contra os que defraudam o trabalhador, e pervertem o direito da viúva, e do órfão, e do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos Exércitos” (Ml.3:5).
Um mártir não é necessariamente alguém que foi morto por uma causa. A palavra “mártir” significa “testemunha”. Olhando por este prisma, podemos afirmar que nossas ruas estão cheias de mártires; adultos e crianças cuja condição dá testemunho diante de Deus acerca das injustiças praticadas em nossa sociedade.
Não há julgamento sem que haja testemunhas! Não basta um Juiz, um advogado de acusação e um de defesa, um júri e um réu. Se não houver testemunhas, o tribunal não será armado. A própria sociedade provê os mártires ( testemunhas) que deporão contra ela no tribunal divino. Em um certo sentido, podemos afirmar que cada mendigo é um mártir, uma testemunha contra nossa sociedade no Tribunal de Deus. Cada desempregado, cada prostituta, cada excluído, cada aborto, depõe contra nossa sociedade diante do Juiz de toda a Terra, ainda que inconscientemente.
Muitas vezes, seu testemunho é silencioso. Porém, às vezes, parece gritar aos nossos ouvidos. Nossa sociedade, cínica que é, parece surda aos gritos dessa gente que vive às suas margens. Somente o Filho de Davi para ter misericórdia dos que estão cegos à margem do caminho. A exemplo do que aconteceu a Bartimeu, cabe à igreja de Cristo conduzir os marginalizados e excluídos à presença do Rei dos reis, em vez de tentar calar o seu clamor.
Compete ainda, a cada geração de cristãos prestar testemunho perante Deus, acerca dos pecados cometidos em sua própria geração. Infelizmente, nunca os cristãos foram tão apáticos e omissos como agora. Cada qual está preocupado com os seus próprios problemas, e ocupado demais em seu mundinho particular. As igrejas se transformaram em verdadeiros guetos, e os seus membros, de tão alienados que estão, não conseguem ouvir o clamor do que estão à sua volta.
A igreja deste novo século precisa redescobrir a oração. Não estou falando daquela oração que tem como pretensão mudar a idéia de Deus (!). Não ! Falo da oração através da qual nos tornamos cúmplices do Trono, tanto dos seus juízos, quanto de sua misericórdia. Orar é depor contra tudo o que não coaduna com a vontade dAquele que Se assenta no trono. Ralph Herring acertou em cheio quando disse que “a oração é uma reunião de cúpula na sala do trono do universo.” Quando oramos, estamos em reunião com o Todo-poderoso, conspirando contra tudo que não se ajusta à sua boa, perfeita e agradável vontade. Por isso mesmo, concordamos a uma só voz com Karl Barth, ao afirmar que “juntar as mãos em oração é o início de um levante contra a desordem do mundo.”
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