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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Não julgueis.






Por Frank Brito


“Não julgueis, para que não sejais julgados”. (Mateus 7:1)

Certamente este é um dos versos mais conhecidos da Bíblia. É também um dos mais mal compreendidos. O entendimento comum das palavras de Jesus é que não temos o direito de analisar de forma crítica nada nem ninguém, mas que devemos reconhecer o direito de cada um de pensar e agir da maneira que achar melhor sem ser moralmente criticado ou repreendido por isso. O problema dessa interpretação das palavras de Jesus Cristo é que, logo em seguida e no mesmo sermão, ele manda que a gente faça uma avaliação crítica de determinadas pessoas:

“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Pelos seus frutos os conhecereis...” (Mat 7.15-16)

Aqui Jesus ordena que a gente faça uma análise crítica para descobrir se alguém é um falso profeta ou não. O meio de avaliar isso, segundo Jesus, é “pelos seus frutos”. Se Jesus tivesse ensinado que não temos o direito de analisar nada nem ninguém de forma crítica e que devemos reconhecer o direito de cada um de pensar e agir da maneira que achar melhor sem ser moralmente criticado ou repreendido por isso, então ele teria nos proibido da tentativa de identificar quem sejam os falsos profetas. A ordem de identificar os falsos profetas pressupõe que não só a validade, mas também a necessidade de fazermos análises críticas das pessoas com quem convivemos e temos contato. Portanto, as palavras de Jesus precisam ser entendidas de outra maneira.

As palavras de Jesus em outro contexto nos esclarecer sobre o real sentido do que ele disse no Sermão do Monte:

“Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo. E, se na verdade julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou”. (João 8.15-16)



Quando Jesus diz “eu a ninguém julgo” e em seguida “o meu juízo é verdadeiro”, ele não está entrando em contradição, mas está enfatizando a origem de seu julgamento. O seu julgamento não era propriamente seu – em sua natureza humana – mas tinha origem no Pai. Neste ponto, é bom ter sempre em mente o que as Escritura ensinam sobre a dupla natureza de Jesus Cristo. Jesus Cristo é verdadeiramente Deus e ao mesmo tempo é verdadeiramente humano. Quando as Escrituras se referem a Jesus Cristo, elas podem estar enfatizando tanto o aspecto humano quanto o Divino de sua pessoa. m Mateus 1.18, por exemplo, está escrito: “O nascimento de Jesus Cristo foi assim…” Por outro lado, em João 8.58, está escrito: “E disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, EU SOU”. Mas como poderia essas duas afirmações a respeito de Jesus Cristo ser igualmente verdadeiras? Como poderia Jesus Cristo ter nascido como um homem e ao mesmo tempo ter existido antes do próprio Abraão de quem ele era descendente biológico? As duas afirmações são igualmente verdadeiras pelo fato de que na pessoa de Jesus Cristo havia tanto uma natureza humana quanto a natureza Divina. Jesus Cristo existia antes de Abraão, em sua Divindade. Nesse aspecto, ele além de ser anterior a Abraão cronologicamente, era também o Criador do próprio Abraão. “Todas as coisas foram feitas por ele e sem ele nada do que foi feito se fez”. (João 1.3) Mas sob o aspecto humano Jesus Cristo era um descendente de Abraão, passando a existir somente depois dele. É por esse motivo que Tomé não hesitou em clamar prostrado diante de Jesus: “Meu Deus e meu Senhor!” (João 20.28) Não é porque Tomé acreditava que Deus somente passou a existir a partir do momento em que Maria deu luz ao filho primogênito ou porque Tomé deixou de acreditar em um Deus diferente daquele que se revelou aos judeus. É porque Tomé sabia que Jesus, antes de seu nascimento, já pré-existia em sua Divindade.


Sendo assim, em um sentido verdadeiro, poderia ser dito que ele a ninguém julgava. Pois o juízo que ele emitia não era outra coisa se não a declaração da verdade cuja origem estava em Deus e não na natureza humana. Como ele diz logo em seguida: “Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar”. (João 12.49) O erro de seus oponentes era julgar “segundo a carne”, isto é, segundo o padrão humano, como se a verdade tivesse origem neles. Em outra ocasião lemos Jesus falando: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça”. (João 7:24) Julgar conforme a reta justiça significa julgar segundo o padrão estabelecido por Deus. Julgar segundo a reta justiça significa se omitir de um juízo cuja origem está no próprio homem, para ser somente um porta voz do juízo que pertence unicamente a Deus.


Quando refletimos sobre a realidade do Juízo, somos levados a um discernimento da maneira pela qual devemos viver e da forma que precisamos ensinar que outros vivam de forma a evitar tal Juízo. Aqueles que ignoram a realidade do Juízo de Deus vivem como se jamais serão julgados. Mas aqueles que reconhecem que serão julgados, precisar discernir entre o bem e o mal que serve como base do Juízo. O Juízo de Deus é o fundamento da capacidade humana de discernir entre o bem e o mal. O padrão que serve de base para o julgamento do homem é o padrão pelo qual o homem deve discernir entre o bem e o mal. Se “Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo” (Romanos 2.16), isso significa que deve existir antes deste Juízo, um meio de adquirir discernimento entre o bem e o mal que serve de base para o Julgamento. A relação entre o Juízo de Deus e a necessidade de discernimento antes do Juízo reflete o que Paulo ensinou sobre o litígio entre os membros da igreja de Corinto:

Ousa algum de vós, tendo uma queixa contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos? Ou não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo há de ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, constituís como juízes deles os que são de menos estima na igreja? Para vos envergonhar o digo. Será que não há entre vós sequer um sábio, que possa julgar entre seus irmãos?” (I Coríntios 6.1-5)



O argumento de Paulo era que se os cristãos irão participar do juízo de Deus sobre o mundo no fim da História, eles então devem ser competentes para discernir corretamente entre o bem e o mal aqui e agora. Os santos deveriam ser capazes de constituir juízes justos, pois tinham acesso a revelação de Deus que define o que é justo e injusto. Moisés já havia escrito sobre a soberania do padrão moral revelado pela Lei de Deus em relação ao padrão moral dos pagãos: “Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o SENHOR meu Deus; para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar. Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida. Pois, que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o SENHOR nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta Lei que hoje ponho perante vós? Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma, que não te esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e não se apartem do teu coração todos os dias da tua vida; e as farás saber a teus filhos, e aos filhos de teus filhos”. (Deuteronômio 4.5-9) A sabedoria da Lei de Deus em contraste com a flagrante estupidez dos estatutos e ordenanças dos pagãos vinha do fato da Lei ter sido revelada por Deus: “Vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o SENHOR”. (v.5) Os cristãos, ao contrário dos pagãos, tinham ciência do padrão que servirá de base para o julgamento do homem no fim da História e por isso deveriam ser os mais competentes, aqui e agora, tanto pra discernir entre o bem e o mal.


A reclamação de Paulo aos coríntios é que eles não estavam vivendo em conformidade a este princípio: “Para vos envergonhar o digo. Será que não há entre vós sequer um sábio, que possa julgar entre seus irmãos?” (I Coríntios 6.5) Apesar de terem acesso a revelação de Deus, que é o fundamento de todo discernimento correto e apurado, eles não utilizavam da revelação recebida e por isso eram incapazes de julgar entre seus irmãos. É a mesma reclamação que é feita na carta aos Hebreus: “Muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino. Mas o mantimento sólido é para os maduros, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal”. (Hebreus 5.11-14) O autor aqui reclama que os leitores ainda não estavam prontos para compreender assuntos mais complexos porque eles eram não conseguiam dominar nem mesmo os assuntos mais fáceis. Apesar de todo o tempo que já eram cristãos, ainda era necessário tratá-los como bebês recém convertidos. O sinal da maturidade, diz ele, era a capacidade desenvolvida de discernir o bem e mal.

Sendo assim, as palavras de Jesus no sermão da montanha não devem ser entendidas como uma proibição da gente emitir juízo tenha origem no próprio homem, na opinião humana. O nosso juízo pra ser válido e verdadeiro, precisa ser propriamente o juízo de Deus.



Aqui então surge uma pergunta importante:

Aqueles que se omitem de falar as palavras de Deus sob o pretexto de "não julgar", não estão na verdade transgredindo a ordem deste verso, tendo em vista que sob o pretexto de "não julgar", estabelecem um padrão que julgam mais brando e com base nesse padrão que não vem de Deus, eles ensinam aquilo que não vem de Deus, mas de suas próprias mentes humanas?



Esse texto aqui também é interessante:

"Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e por causa dele não sofrerás pecado". (Levítico 19:17)

Parece que "deixar rolar" está associado a "odiar a teu irmão no teu coração".



Esse é propósito do "julgamento justo" e repreensão, levar o irmão a um exame próprio para que possa se voltar para Deus:


"Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina." (2Tm 4:1-2).

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