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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

significado do livro de Apocalipse

Por Frank Brito


Sem dúvidas, o livro de Apocalipse é o livro mais difícil de ser compreendido em toda a Bíblia. O famoso escritor, Ambrose Bierce comentou com uma dose de humor sobre o livro de Apocalipse:[ “Um famoso livro no qual São João escondeu tudo o que ele sabia. Quem faz a revelação são os comentaristas que nada sabem”. 

Durante o seu ministério, Jesus também falava muito por meio de símbolos – no que chamamos de parábolas. Uma explicação muito comum, mas equivocada sobre o uso de parábolas no ministério de Jesus, era que as parábolas supostamente facilitariam o entendimento da população que ouvia Jesus, já que transmitiam os ensinamentos por meio de comparações baseadas na vida comum de seus ouvintes. Tal explicação é incoerente com o ensino do próprio Jesus sobre o tema:

"E chegando-se a ele os discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas? Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado; pois ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem nem entendem.” (Mt 13:10-13)



Jesus não usava parábolas pra facilitar a compreensão das verdades espirituais, mas para dificultar. Para compreender uma parábola, era preciso muita reflexão. Uma pessoa que verdadeiramente buscasse a Deus iria pensar, refletir, buscar e perguntar até que ele consiga encontrar o real sentido do que Cristo ensinava. Tendo encontrado o significado, ele irá refletir sobre o ele até que ele consiga compreender o máximo possível sobre Deus mediante a nova informação adquirida. O que Jesus disse é que ele queria que o sentido da parábola tivesse aberto somente para aqueles que realmente tivessem o desejo de compreendê-las. Isso requer dedicação e esforço.

É devida justamente a sua natureza simbólica que não existe unanimidade na interpretação do Apocalipse, ainda que em meio aos melhores estudiosos. A dificuldade em compreender este livro é que a sua mensagem é quase inteiramente transmitida em símbolos.



Para compreender uma parábola, era preciso muita reflexão. Uma pessoa que verdadeiramente buscasse a Deus iria pensar, refletir, buscar e perguntar até que ele consiga encontrar o sentido da parábola. Tendo encontrado o sentido, ele irá refletir sobre o significado encontrado até que ele consiga compreender o máximo possível sobre Deus mediante a nova informação adquirida. Uma mente carnal não teria disposição suficiente pra se esforçar e buscar em Deus até descobrir o sentido da parábola. O que Jesus disse é que ele queria que o sentido da parábola tivesse fechado para as mentes carnais.

A Confissão de Westminster comenta:

“Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro passo da Escritura são tão claramente expostas e explicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas”. (I, 7)

E também:

“A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente”. (I, 9)

A maior dificuldade de compreensão do livro de Apocalipse é que a regra infalível de interpretação da Escritura tem sido substituída pela imaginação fértil. As Escrituras devem interpretar as próprias Escrituras, as coisas que são mais claras devem iluminar o sentido das que são menos claras.



O problema de muitos cristãos na compreensão do livro de Apocalipse não é um problema com o Apocalipse somente, mas é algo muito mais amplo. É a falta de intimidade com a Bíblia em sua totalidade, a falta de intimidade com os principais temas que regem a narrativa bíblica e é principalmente um problema com o Antigo Testamento. Muitos cristãos abordam o Novo Testamento de forma completamente desconexa do Antigo Testamento. A Bíblia é uma unidade coesa. O Novo Testamento deve ser entendido como o cumprimento do Antigo. É claro que há descontinuidades entre os dois testamentos, mas tais descontinuidades devem ser entendidas a luz do que a própria Bíblia diz sobre si mesma. Não devemos assumir uma descontinuidade arbitrariamente sem uma justificativa fundamentada na própria Bíblia. O livro de Apocalipse seria mais fácil de compreender se mais cristãos soubessem que a maioria desses símbolos não é inovação, mas foram tirados do Antigo Testamento em contextos que explicam o sentido de tais símbolos de forma que tenhamos base pra compreender o que o símbolo significa quando aparece Apocalipse. Compreender a unidade temática da Bíblia é fundamental pra compreender qualquer livro da Bíblia individualmente.


Para muitos cristãos, o Apocalipse é um livro sobre o futuro que lembra o enredo de filmes de ficção científica. A verdade é que o livro de Apocalipse não é um livro sobre um futuro, mas, em sua maior parte, é um livro sobre coisas que para nós no século XXI, já ficaram no passado. Como o livro já começa dizendo, “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer”. (Ap 1.1) As coisas que deveriam acontecer, eram futuras em relação ao tempo em que o livro foi escrito. Mas aconteceram brevemente e por isso é passado para nós. Somente nos últimos capítulos, é que o Apocalipse fala de coisas que ainda são futuras a nós: o fim da Grande Comissão, o Juízo Final e a Consumação da História nos Novos Céus e Nova Terra.

Mas isso não significa que o Apocalipse não tenha relevância para nós no século XXI. Afinal, a maior parte dos eventos narrados pela Bíblia aconteceu muito tempo atrás. Isso não faz da Bíblia Mas a Escritura é totalmente relevante, não somente para nós, mas para todos os cristãos de todas as épocas. Aquilo que foi escrito sobre o passado é relevante, pois como diz Paulo, “tudo isto lhes acontecia como exemplo, e foi escrito para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos”. (I Coríntios 10.11)



É importante notar que nesse texto Paulo menciona que ele e seus contemporâneos já haviam chegado aos fins dos séculos. Isso não é mencionado só por Paulo, mas é o testemunho do Novo testamento inteiro:

“Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo esta a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos; e também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e minhas servas, naqueles dias, e profetizarão”. (Atos 2.14-18)

Vemos ai que Pedro menciona que a efusão do Espírito que ocorreu no Dia de Pentecostes era o cumprimento da profecia de Joel. Joel profetizou que isso aconteceria nos últimos dias. Pedro então estava dizendo que os últimos dias já haviam chegado.

“... sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo, o qual, na verdade, foi conhecido ainda antes da fundação do mundo, mas manifesto no fim dos tempos por amor de vós”. (I Pedro 1.18-20)

Ai Pedro lembra aos leitores que eles foram salvos não por dinheiro, mas pelo sacrifício de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus. E quando isso aconteceu? No fim dos tempos.



É verdade, então, que o Apocalipse deve ser entendido como um livro sobre os últimos tempos. Mas isso não significa que seria um livro sobre os últimos instantes da História. Os últimos tempos começaram com a Encarnação do Senhor e o Apocalipse fala de eventos que se cumpriram não muito tempo depois disso. E como já foi mencionado, isso não torna o livro de Apocalipse irrelevante. A verdade é que o Apocalipse seria irrelevante se ele fosse um livro que falasse somente dos últimos eventos da História. Nesse caso, seria irrelevante para todo o resto da História da Igreja que viesse antes da última geração. Pois ai o livro estaria falando de coisas dos quais a Igreja nunca teria idéia do que se tratava era até a geração final. Para os dispensacionalistas o livro de Apocalipse é irrelevante para toda a Igreja de todos os tempos. Os dispensacionalistas acreditam que as profecias do Apocalipse só vão começar a se cumprir depois de um suposto arrebatamento secreto da Igreja em uma vinda secreta de Jesus. Mas o Apocalipse é claro. Foi escrito “às sete igrejas que estão na Ásia” (Ap 1.4) para “mostrar aos seus servos as coisas quebrevemente devem acontecer” (Ap 1.1) e confirmar a esperança dos seus servos em Jesus que “vem com as nuvens” não secretamente, mas “todo olho o verá” (Ap 1.7)


O livro de Apocalipse seria mais fácil de compreender se mais cristãos soubessem que a maioria desses símbolos não é inovação, mas foram tirados do Antigo Testamento em contextos que explicam o sentido de tais símbolos de forma que tenhamos base pra compreender o que o símbolo significa quando aparece Apocalipse.

Além disso, precisamos notar que ele é um livro de contrastes. Cada um dos principais personagens e símbolos do livro tem um personagem ou símbolo oposto. Os principais personagens e símbolos do Apocalipse são:

Deus – Dragão
Besta – Cordeiro
A Marca de Deus – a Marca da Besta
A Nova Jerusalém – Babilônia
A Noiva do Cordeiro – A Prostituta



No capítulo 17, está o texto chave pra compreender o contexto histórico do cumprimento das profecias. É a visão da “Grande Babilônia, a mãe das prostituições e das abominações da terra”. (Ap 17:5)
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"Ao que o anjo me disse: Por que te admiraste? Eu te direi o mistério da mulher, e da besta que a leva, a qual tem sete cabeças e dez chifres... As sete cabeças são sete montes... são também sete reis: cinco já caíram; um existe; e o outro ainda não é vindo; e quando vier, deve permanecer pouco tempo".
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O anjo explica que as sete cabeças da besta representavam, em primeiro lugar, sete montes. A cidade de Roma era e ainda é mundialmente conhecida como “a cidade dos sete colinas”, pois Roma é cercada por sete montes.
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Sete_colinas_de_Roma



Além disso, o anjo o revela que as sete cabeças representavam sete reis dos quais cinco já haviam caído. Isso deixa claro que a besta do Apocalipse deva ser entendida como significando algo que era contemporâneo a João. Pois o anjo diz claramente, “são também sete reis: cinco já caíram; um existe; e o outro ainda não é vindo; e quando vier, deve permanecer pouco tempo”. O símbolo da besta então claramente aponta para o Império Romano. As sete cabeças são os sete primeiros imperadores desde que o Império foi estabelecido por Julio César:

1. Julio
2. Augusto
3. Tibério
4. Gaio
5. Claudio
6. Nero
7. Galba



A comparação do Império Romano com uma besta já havia sido feito pelo livro de Daniel:

“No primeiro ano de Belsazar, rei da Babilônia, teve Daniel um sonho e visões ante seus olhos, quando estava no seu leito; escreveu logo o sonho e relatou a suma de todas as coisas. Falou Daniel e disse: Eu estava olhando, durante a minha visão da noite, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o mar Grande. Quatro animais, grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar. O primeiro era como leão e tinha asas de águia; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, foi levantado da terra e posto em dois pés, como homem; e lhe foi dada mente de homem. Continuei olhando, e eis aqui o segundo animal, semelhante a um urso, o qual se levantou sobre um dos seus lados; na boca, entre os dentes, trazia três costelas; e lhe diziam: Levanta-te, devora muita carne. Depois disto, continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a um leopardo, e tinha nas costas quatro asas de ave; tinha também este animal quatro cabeças, e foi-lhe dado domínio. Depois disto, eu continuava olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e tinha dez chifres”. (Daniel 7.1-7)

O termo ai traduzido por “animal” é a palavra cheyva no hebraico e era usada pra se referir a animais ferozes. Também poderia ser traduzida como “besta”. Esse é o caso da Bíblia King James em inglês que traduz a palavra como “beast”. A palavra grega therion que é traduzida como besta no Apocalipse tem o mesmo sentido, animais ferozes. As quatro bestas da visão de Daniel representam quatro Impérios mundiais: Babilônico, Medo-Persa, Grego, e Romano. Os três primeiros são caracterizados como: Leão, Urso, Leopardo. A quarta besta não é associada a nenhum animal específico.



Ela é equivalente a besta que João vê no Apocalipse:

“Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade”. (Apocalipse 13.1-2)

Aqui também a besta não é associada a nenhum animal único, mas tem todas as características das três primeiras bestas do livro de Daniel. Além disso, João diz que a besta tinha em cada cabeça um nome de blasfêmia. Os césares de Roma eram adorados como deuses. Foram oficialmente designados com os títulos de Sebastos (alguém que deve ser adorado), divus (Divino) e Theos (Deus).



João dá um indicador importante para ajudar na identificação do significado da besta: “Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis”. (Apocalipse 13.18)Como já vimos, quando João escreveu o Apocalipse, o imperador era Nero, o sexto imperador após o estabelecimento do Império por meio de Julio César. Segundo documentos contemporâneos a João, Nero César, era Nrwn Qsr em hebraico. Lembremos que em todos os idiomas antigos, cada letra era equivalente a um número. Até hoje usamos numerais romanos que são letras associados a números. No caso de Nrwn Qsr, em hebraico, seu nome equivale exatamente a seiscentos e sessenta e seis.

Nero foi o primeiro imperador romano a iniciar uma perseguição oficial e sistemática contra os cristãos. A perseguição começou em Novembro de 64 e continuou até Junho de 68 quando ele se matou com uma espada no pescoço. Foi durante esse período de perseguição que os apóstolos Paulo e Pedro foram assassinados. O próprio João estava exilado na ilha de Patmos: “Eu, João, irmão vosso e companheiro convosco na tribulação, no reino, e na perseverança em Jesus, estava na ilha chamada Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus”. (Apocalipse 1.9)

No mundo antigo, Nero era conhecido pelo seu prazer por morte, tortura e perversidade sexual (homossexualidade, pedofilia, sexo com animais). Ele assassinou sua mãe, irmão, esposa e tia. No auge de sua insanidade, Nero castrou um menino chamado Sporus, passou a tratá-lo como uma mulher e até celebrou uma cerimônia de casamento com ele, vestido de noiva. Nero acreditava ser Deus manifesto em carne, o Salvador do Mundo.



Mas em João 17, junto com a besta, há uma prostituta que vem cavalgando a besta... A primeira coisa que precisamos notar nessa visão é o local.

"... ele me levou em espírito a um deserto; e vi uma mulher montada numa besta".(Ap 17)

João já havia falado no deserto. E já havia falado de uma mulher no deserto.

“E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias”. (Apocalipse 12.6)
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“E foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente”. (Apocalipse 12.14)



Como já mencionamos, a maior parte dos símbolos do Apocalipse foi tirado do Antigo Testamento em contextos que explicam o sentido de tais símbolos de forma que tenhamos base pra compreender o que o símbolo significa quando aparece Apocalipse. Esse é o caso da mulher que fugiu para o deserto, com duas asas da grande água. Isso é uma referência ao livro de Êxodo:

“Então subiu Moisés a Deus, e do monte o Senhor o chamou, dizendo: Assim falarás à casa de Jacó, e anunciarás aos filhos de Israel: Vós tendes visto o que fiz: aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos trouxe a mim”. (Êxodo 19.3-4)

Em Deuteronômio, lemos mais claramente sobre o significado dessa comparação:

“Porque a porção do Senhor é o seu povo; Jacó é a parte da sua herança. Achou-o numa terra deserta, e num erma de solidão e horrendos uivos; cercou-o de proteção; cuidou dele, guardando-o como a menina do seu olho. Como a águia desperta o seu ninho, adeja sobre os seus filhos e, estendendo as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, assim só o Senhor o guiou, e não havia com ele deus estranho”. (Deuteronômio 32.9-12)

Assim como a águia cuida de seus filhos e leva os seus filhos sobre as suas asas, assim também o Senhor cuidou de Israel e o tirou da terra do Egito. Então quando o Apocalipse fala da mulher fugindo para o deserto e sendo levada por duas asas da grande águia, o Apocalipse está identificando tal mulher com Israel e está dizendo que o que ela passaria, seria análogo ao que Israel passou no deserto depois de ser liberto do Egito. A identificação dessa mulher com Israel fica ainda mais evidente na abertura da visão:



“E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E estando grávida, gritava com as dores do parto, sofrendo tormentos para dar à luz. Viu-se também outro sinal no céu: eis um grande dragão vermelho que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas... e o dragão parou diante da mulher que estava para dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe devorasse o filho. E deu à luz um filho, um varão que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono”. (Apocalipse 12.1-5)

A referência ao sol, lua e doze estrelas é uma referência a visão que teve José, filho de Jacó:

“Teve José outro sonho, e o contou a seus irmãos, dizendo: Tive ainda outro sonho; e eis que o sol, e a lua, e onze estrelas se inclinavam perante mim”. (Gênesis 37.9)

O sonho de José se cumpriu depois de ter sido vendido como escravo ao Egito e virado governante. Sua família acabou se tornando dependente pra fugir da fome e por isso em seu sonho, o sol, a lua e as estrelas se inclinam perante ele. O sul representava seu pai Jacó, a lua representava sua mãe Rebecas. As onze estrelas representavam seus irmãos que o venderam como escravo ao Egito.

Deus mudou o nome de Jacó pra Israel e os seus doze filhos deram origem às doze tribos de Israel. A mulher da visão de João é claramente Israel. Foi a nação de Israel que deu à luz Jesus.

“Os quais são israelitas, de quem é a adoção, e a glória, e os pactos, e a promulgação da lei, e o culto, e as promessas; de quem são os patriarcas; e de quem descende o Cristo segundo a carne, o qual é sobre todas as coisas, Deus bendito eternamente”. (Romanos 9.4-5)



É importante notar que a visão da besta que sobe do mar e da besta que sobe da terra (chamada de falso profeta no resto do livro) vem logo após a visão da fuga da mulher para o deserto. A visão da mulher que foge para o deserto está no capítulo 12. A visão das da besta que sobe do mar e da besta que sobe da terra (o falso profeta) está no capítulo 13. Já mencionamos que a visão da fuga da mulher para o deserto em Apocalipse 12 é tem como pano de fundo a libertação de Israel da escravidão do Egito. Não é coincidência, então, que logo após, há a visão das duas bestas, subindo do mar e da terra. Quando Israel esteve no deserto após ser liberto do Egito, também teve que enfrentar dois inimigos: Balaque que era rei de Moabe e Balaão que era um falso profeta.


Quando os filhos de Israel chegaram às planícies de Moabe, os moabitas fizeram aliança com os midianitas. Balaque era rei de Moabe e conseguiu que anciões das duas nações fossem comprar os serviços do falso profeta Balaão. O objetivo era que ele, com suas feitiçarias, lançasse maldições sobre os israelitas. As coisas não deram muito certo até que sob o conselho de Balaão, os midianitas enviaram suas mulheres ao acampamento para se prostituir com os israelitas e levá-los ao culto a Baal, o deus dos moabitas e midianitas

O livro de Números nos conta do trágico resultado para muitos israelitas que caíram na armadilha:

“Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, fizeram que os filhos de Israel pecassem contra o Senhor no caso de Peor, pelo que houve a praga entre a congregação do Senhor”. (Números 31.16)

O apóstolo Paulo comentou o caso:

“Pois não quero, irmãos, que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar; e, na nuvem e no mar, todos foram batizados em Moisés, e todos comeram do mesmo alimento espiritual; e beberam todos da mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os acompanhava; e a pedra era Cristo. Mas Deus não se agradou da maior parte deles; pelo que foram prostrados no deserto. Ora, estas coisas nos foram feitas para exemplo, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos torneis, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar. Nem nos prostituamos, como alguns deles fizeram; e caíram num só dia vinte e três mil”. (I Coríntios 10.1-8)



No começo do Apocalipse, Jesus avisa:

“Sei onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; mas reténs o meu nome e não negaste a minha fé, mesmo nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. entretanto, algumas coisas tenho contra ti; porque tens aí os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, introduzindo-os a comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem”. (Apocalipse 2.13-14)

Esse é o pano de fundo para a visão das duas bestas que aparece após a visão da fuga da mulher para o deserto e sobre a mulher que vem cavalgando a besta.

O que a visão mostra é que Israel passaria por algo que seria análogo ao que Israel passou no deserto depois de ser liberto do Egito. Assim como Israel teve que enfrentar Balaque e Balaão no deserto, teriam que enfrentar agora a besta e o falso profeta.

No sétimos capítulo, João já havia tido uma visão significante sobre Israel:

“Depois disto vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem contra árvore alguma. E vi outro anjo subir do lado do sol nascente, tendo o selo do Deus vivo; e clamou com grande voz aos quatro anjos, quem fora dado que danificassem a terra e o mar, dizendo: Não danifiques a terra, nem o mar, nem as árvores, até que selemos na sua fronte os servos do nosso Deus. E ouvi o número dos que foram assinalados com o selo, cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos dos filhos de Israel: da tribo de Judá havia doze mil assinalados; da tribo de Rúben, doze mil; da tribo de Gade, doze mil; da tribo de Aser, doze mil; da tribo de Naftali, doze mil; da tribo de Manassés, doze mil; da tribo de Simeão, doze mil; da tribo de Levi, doze mil; da tribo de Issacar, doze mil; da tribo de Zabulom, doze mil; da tribo de José, doze mil; da tribo de Benjamim, doze mil assinalados”. (Apocalipse 7.1-8)



O texto começa falando sobre quatro anjos. Os quatro anjos recebem ordens de que deveriam procrastinar o juízo até que uma quantidade específica de pessoas fosse selada. Há uma visão parecida no livro de Ezequiel:

“E a glória do Deus de Israel se levantou do querubim sobre o qual estava, e passou para a entrada da casa; e clamou ao homem vestido de linho, que trazia o tinteiro de escrivão à sua cintura. E disse-lhe o Senhor: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela. E aos outros disse ele, ouvindo eu: Passai pela cidade após ele, e feri; não poupe o vosso olho, nem vos compadeçais. Matai velhos, mancebos e virgens, criancinhas e mulheres, até exterminá-los; mas não vos chegueis a qualquer sobre quem estiver o sinal; e começai pelo meu santuário. Então começaram pelos anciãos que estavam diante da casa”. (Ezequiel 9.3-6)

O texto fala da destruição de Jerusalém e do templo que ocorreu mediante a invasão Babilônica. Mas a destruição não veio sobre os judeus completamente. Um remanescente foi poupado. Os remanescentes eram os arrependidos que foram “selados”. Como disse Isaías:

“Se o Senhor dos exércitos não nos deixara alguns sobreviventes, já como Sodoma seríamos, e semelhantes à Gomorra”. (Isaías 1.9)

E também:

“Um resto voltará; sim, o resto de Jacó voltará para o Deus forte. Porque ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a areia do mar, só um resto dele voltará. Uma destruição está determinada, trasbordando de justiça”. (Isaías 10.21-22)

Deus não destruiu Israel completamente como fez com Sodoma e Gomorra, mas deixou um remanescente. Paulo explica detalhadamente sobre o significado desse remanescente no plano eterno de Deus em sua carta aos Romanos.



Esse foi o caso de quando Israel esteve no deserto. No deserto, havia dois grupos em Israel:

1. Os que formavam o verdadeiro Israel, o Israel de Deus, a quem as promessas foram feitas, segundo a eleição da graça.

2. Os que eram filhos de Abraão da carne, mas que não eram filhos de Deus e filhos de Abraão em relação as promessa. Entre esses estavam os vinte e três mil que caíram num só dia depois de caírem na cilada de Balaque e Balaão.


Essas são as duas mulheres do Apocalipse.

O primeiro grupo é a mulher que foge e é protegida no deserto.

O segundo grupo é a mulher que cavalga a besta, a grande prostituta.



O Novo Testamento nos mostra que no primeiro século, a Igreja tinha dois perseguidores: Os judeus e o Império Romano. Começando pelos Evangelhos, vemos a forte perseguição que os judeus exerceram sobre Jesus. Havia um remanescente. Mas um remanescente significa minoria.

Quando Pilatos apresentou Jesus aos judeus como Rei, os judeus preferiram a besta:

“Desde então, Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus gritavam, dizendo: Se soltas este, não és amigo do César! Qualquer que se faz rei é contra o César! Ouvindo, pois, Pilatos esse dito, levou Jesus para fora e assentou-se no tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, e em hebraico o nome é Gabatá. E era a preparação da Páscoa e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso rei. Mas eles bradaram: Tira! Tira! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão o César. Então, entregou-lho, para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus e o levaram”. (João 19.12-16)

Os príncipes de Israel não queriam Jesus como rei. Alegaram que não tinham rei se não César. E entregaram Jesus pra ser crucificado. A prostituta montou na besta.



Pedro falou em um sermão que deu no templo de Jerusalém: “Varões israelitas... O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, quando este havia resolvido soltá-lo. Mas vós negastes o Santo e Justo, e pedistes que se vos desse um homicida; e matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas”. (Atos 3.12-16)

Aos Tessaloniscenses, Paulo resumiu a situação dos judeus em relação aos cristãos: Os judeus “mataram o Senhor Jesus e os seus próprios profetas, e nos têm perseguido, e não agradam a Deus, e são contrários a todos os homens. E nos impedem de pregar aos gentios as palavras da salvação, a fim de encherem sempre a medida de seus pecados; mas a ira de Deus caiu sobre eles até ao fim”. (1 Tessaloniscenses 2.14-16) É o que vê no Apocalipse: “E nela se achou o sangue dos profetas, e dos santos”. (Apocalipse 18.24)

Pra resumir, então, o Apocalipse fala dos dois principais inimigos do Evangelho na Igreja primitiva e fala sobre como esses inimigos seriam historicamente derrotados para que a Igreja Primitiva tivesse esperança diante das perseguições e para que a Igreja de todos os séculos tivesse esperança quando surgissem novos inimigos.



Os judeus eram os inimigos "de dentro"... Os romanos eram os inimigos "de fora"...

Em teoria, os judeus se declaravam como sendo parte do "povo de Deus"...

Mas na realidade, eles haviam se vendido para os poderes externo... Os poderes do "mundo"... Haviam se vendido pra Roma... Virou prostituta e montou na besta...

Então eu diria que as bestas modernas se Encarnam nos sistemas de vida impostos políticamente e por qualquer tipo de força opressora e que se colocam pra oprimir privando a Humanidade de sua liberdade em Cristo Jesus... O Islã é um exemplo na Africa e no Oriente Médio... O comportamento "secularizado" (na verdade ateístas) dos reinos aqui no Ocidente são outro exemplo...

E no caso das prostitutas eu diria que são aqueles cristãos que professam fazer parte do povo de Deus, professam ter um mesmo Deus, mas cuja filosofia de vida está edificada sobre os pressupostos das bestas citadas acima... No caso do Ocidente podemos citar aqueles teólogos que duvidam até da ressurreição corporal de Jesus Cristo e de seus milagres pra poder ficar coerente com a filosofia "secularizada" (ateísta) dos chamados intelectuais... Os ativistas homossexuais do movimento "More Light Presbyterians" na Presbyterian Church (USA) são excelente exemplos de "prostitutas"...

E em relação a todas essas versões modernas, a ordem de Cristo continua de pé:

"Mas tenho contra ti que toleras a mulher Jezabel, que se diz profetisa; ela ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificdas a ídolos".
(Apocalipse 2.20)

Por isso devemos ser intolerantes com tais prostitutas em nossas igrejas, excomungando cada um deles depois de admoestá-los e ainda assim não se arrependerem e devemos ser intolerantes com as filosofias desse mundo que oprimem aqueles que são fieis aos principios do Evangelho....




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