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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Paulo e Tiago

Uma das principais armas dos inimigos do evangelho da graça é arrastar Tiago pra dentre de um ringue contra Paulo como se o que um ensinasse o outro negasse, como se ambos ensinassem duas coisas distintas e opostas.

A arma favorita deles é citar a carta de Tiago quando ele diz: "Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé" (Tiago 2:24) e depois citar Paulo dizendo, "concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei". (Romanos 3.28)

E aí? Não estariam os dois aí evidentemente entrando em uma contradição sem saída? Não é esta a prova que ambos pregavam diferentes evangelhos? Qual é solução?

Em primeiro lugar nós temos que entender que usar palavras iguais não significa dizer a mesma coisa se as duas palavras não forem usadas com o mesmo sentido. Pra saber se duas pessoas estão falando a mesma coisa ou se estão falando coisas diferentes não basta verificar que estão usando as mesmas palavras. É preciso também verificar se as palavras estão sendo usadas com o mesmo sentido.
Vamos começar analisando o uso do termo "justificar" que é o ponto principal da questão. "Justificar" significa simplesmente "reconhecer alguém como sendo um justo". Não significa "fazer com alguém seja justo", mas simplesmente reconhecer".

No evangelho de Lucas, por exemplo: "E ele lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações; porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação".(Lucas 16:15) O que Jesus reclama aí daqueles que procuravam ser reconhecidos por todo mundo como sendo muito justos quando na verdade eram ímpios e corruptos.

"E todo o povo que o ouviu, e até os publicanos, justificaram a Deus, recebendo o batismo de João". (Lucas 7:29) Em algumas traduções, o que vem aí é "reconheceram a justiça de Deus" o que dá no mesmo. Justificar significa reconhecer como sendo justo. 
Sendo assim, vamos ver o que Paulo diz sobre o assunto.

"Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida; porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça; assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará o pecado". (Rom 4:1-8)

Sabendo que "ser justificado" significa "ser reconhecido como um justo", não parece ser um contradição afirmar que Deus "justifica o ímpio"? Se é ímpio, como pode estar ao mesmo tempo sendo reconhecido como JUSTO e ainda por cima, por Deus!
 
A resposta é que Deus justifica o ímpio por meio da !

E que diferença isso faz?

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem". (Hebreus 11.1) E também "Deus chama as coisas que ainda não são, como se já fossem"(Romanos 4.17)

Quando Deus justifica o ímpio, o que Deus está fazendo é "chamando a coisas que ainda não são, como se já fossem" e a fé daquele que é assim justificado por Deus é "firme fudamento de sua própria justiça que se espera e a prova de sua própria justiça que não se vê".
 
A santificação do homem de seu estado de impiedade é uma obra exclusiva de Deus e não uma obra do próprio homem. A fé é a plena certeza "que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus..." (Filipense 1:6) já que "o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora".(João 6.37)

Esse é o sentido da justificação em Paulo, uma promessa incondicional da parte de Deus em fazer que o seu eleito seja um justo e por isso ele o chama de justo.
 
Sendo assim, erram terrivelmente aqueles que acreditam que aqueles que foram justificados por Deus podem, de alguma forma, serem condenados. Os que pensam assim negam que a justiça do homem seja uma obra de Deus concedida ao homem e por isso é impossível que não aconteça já que Deus é fiel pra cumprir e cumprirá quando nos apresentar puros e imaculados
 
Agora vamos ver o que diz Tiago:

"Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras...Porventura não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar seu filho Isaque? Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada; e se cumpriu a escritura que diz: E creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus. Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé". (Tiago 2.18,21-24)

Em primeiro lugar, nós já vimos que "ser justificado" significa simplesmente ser "reconhecido como justo". Nós já vimos também que em Paulo, ele estava falando em como o homem pode ser recohecido como justo diante de Deus. Mas nós já vimos também que nem sempre quando os textos bíblicos falam em justificação, eles estão falando em ser reconhecido como justo diante de Deus. Em Lucas, por exemplo, nós lemos a respeito de homens reconhecendo Deus como sendo justo.

Mas e Tiago? Do que Tiago está falando?

"Mas alguém dirá: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fém sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras"
 
Tiago está falando nas pessoas mostrarem que de fato são justas e não em serem aceitos por Deus como justo.

Isso fica mais claro quando Paulo cita o caso de Abraão:

"Porventura não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar seu filho Isaque? Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada; e se cumpriu a escritura que diz: E creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça..." (Tiago 2:21-23)

Tiago diz que quando Abraão ofereceu Isaque sobre o altar, cumpriu-se a escritura que diz: Creu Abraão em Deus e isso foi lhe imputado como justiça. Se Tiago quisesse dizer que é só quando Abraão fez isso que ele foi justificado diante de Deus pela sua obra ele teria que ser um completo ignorante em relação a ordem dos fatos no livro de Gênesis. Pois no livro de Gênesis, Abraão oferece Isaque sobre o altar no capítulo 18. E é no capítulo 15 que é dito que ele creu em Deus e isto foi imputado como justiça. Tiago não poderia estar aqui dizendo que o que acontece depois foi a causa do que acontece depois. Se no capítulo 15 a justiça já havia sido imputada isso não pode ter sido causado pelo que acontece só no capítulo 18, o sacrificio de Isaque.

A verdade é que quando fala que Abraão foi "justificado pelas suas obras" ele não está falando disso em relação a Deus, pois sobre a relação com Deus, ele mesmo cita o Gênesis que diz que isso ocorreu quando Abraão quando ele simplesmente creu. "Justificado" aí é no sentido que ele acabara de citar: "Mas alguém dirá: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fém sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras". É no sentido das pessoas mostrarem que a sua justiça concedida por Deus é verdadeira. Quando Abraão ofereceu Isaque, ele mostrou pra todos nós o quanto era verdadeira a sua fé na promessa de Isaque daria luz a uma grande nação.
 
Pela fé, Abraão já sabia que Isaque não iria morrer, pois no capítulo 15 Deus já fizera uma promessa a respeito de Isaque. Mas quando ele ofereceu Isaque sobre o altar, ele justificou a sua fé perante todos e mostrou que ela não era falsa, não era morta.
 
o homem tem que viver conforme aquilo que a sua fé afirma. É pela sua vida vivida conforme a sua fé que ele mostra que o que ele diz ser é verdadeiro. O que ele diz aí, é o que Paulo diz no seguinte:

"Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?" (Romanos 6.16)
"O pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais de baixo da lei, mas de baixo da graça". Aqui Paulo estabelece a base da esperança do cristão. Como ele vai falar no capítulo 8, "em esperança somos salvos". Aqui ele fala qual é a base desta esperança, a saber, a certeza de que "o pecado não terá domínio sobre vós". É a promessa inabalável de Deus de libertar os seus do pecado. Com base nessa promessa, os filhos de Deus sabem, com antecipação, que Deus operará neles infalivelmente a libertação final de todo o pecado. Isso não é uma realidade já tangível para nós, mas é algo que sabemos pela fé. A fé na promessa de Deus de que "o pecado não terá domínio sobre vós".

E aí vem o motivo pelo qual o pecado temos a certeza de que o pecado não poderá ter domínio sobre nós: "porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça". Pelas palavras "lei" e "graça", Paulo lança nossos olhos para os dois pactos, o pacto do sinai e o pacto da cruz. Por "lei", Paulo se refere ao seguinte princípio estabelecido pelo Pacto Sinai: "Guardareis, pois, os meus estatutos e as minhas ordenanças, pelas quais o homem, observando-as, viverá". (Levíticos 18.5)
 
A essência do Pacto da Lei do Sinai era que a promessa de vida estava condicionada a capacidade do indivíduo de observar os mandamentos de Deus. Se o indivíduo cumprisse tal requerimento do Pacto, então ele era justificado. Se ele não cumprisse, ele era condenado.

Mas veja como, já no deserto, Deus colocou o Pacto da Graça diante de seus olhos:

"Depois que o Senhor teu Deus os tiver lançado fora de diante de ti, não digas no teu coração: por causa da minha justiça é que o Senhor me introduziu nesta terra para a possuir. Porque pela iniqüidade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti. Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela iniqüidade destas nações o Senhor teu Deus as lança fora de diante de ti, e para confirmar a palavra que o Senhor teu Deus jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o Senhor teu Deus te dá esta boa terra para a possuíres, pois tu és povo de dura cerviz. Lembra-te, e não te esqueças, de como provocaste à ira o Senhor teu Deus no deserto; desde o dia em que saíste da terra do Egito, até que chegaste a este lugar, foste rebelde contra o Senhor". (Deuteronômio 9.4-7)

Segundo o Pacto da Lei que acabara de ser estabelecido, o povo não tinha o direito de receber a herança da terra, pois eles havia sido um povo rebelde desde o dia em que saíram do Egito. É aí que Deus manifestou a sua graça a parte da Lei e os introduziu na terra mesmo assim! Parafraseando Romanos 6.14, o pecado não teve domínio sobre eles, pois Deus os retirou debaixo da Lei e os colocou de baixo da graça.
 
E porque Deus fez isso?

"para confirmar a palavra que o Senhor teu Deus jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó...", isto é, por causa da promessa que havia sobre eles!

E aqui nós temos um ponto interessante que eu havia discutido no outro tópico sobre a identidade do verdadeiro Israel...

Veja, irmão, que não foram todos os israelitas que foram introduzidos na terra... Muitos caíram mortos no deserto como punição de seus pecados. Mas eu lhe pergunto... Esse que foram livres de tal punição não eram pecadores? O que diz as Escrituras? "Depois que o Senhor teu Deus os tiver lançado fora de diante de ti, não digas no teu coração: por causa da minha justiça é que o Senhor me introduziu nesta terra para a possuir". Veja que os que morreram, morreram pelo pecado... E os que foram salvos, o foram não pela ausência de pecado, mas pela graça...

Graça esta prometida aos pais, Abraão, Isaque e Jacó...

E isso prova que: "Não que a palavra de Deus haja falhado. Porque nem todos os que são de Israel são verdadeiramente israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filhos... não são os filhos da carne que são filhos de Deus; mas os filhos da promessa são contados como descendência".(Rom 9:6-8)

Pois se todos os filhos biológicos de Abraão fossem considerados os herdeiros da promessa, ele não teria dito somente sobre uma parte que "Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela iniqüidade destas nações o Senhor teu Deus as lança fora de diante de ti, e para confirmar a palavra que o Senhor teu Deus jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó". veja que a promessa é considerada como estando de pé, quando é cumprida com o remanescente, pois são estes e nem todos os que são os verdadeiros herdeiros da promessa.
 
Pois ao testamento anteriormente confirmado por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não invalida, de forma a tornar inoperante a promessa. Pois se da lei provém a herança, já não provém mais da promessa; mas Deus, pela promessa, a deu gratuitamente..." (Gálatas 3:17-18)
Veja o exemplo dos judeus herdeiros da promessa no deserto... Veja como mesmo sendo transgressores da Lei, a Lei não tornou a promessa inoperante, mas Deus pela promessa a deu gratuitamente!

Assim nós então, que somos também herdeiros da promessa sabemos que "o pecado não terá domínio sobre nós, porquanto não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça".

Mas veja, irmão, que quando nós falamos de tamanha graça de Deus que nos promete antecipadamente a vitória final, logo surgem aqueles que nos acusam da seguinte forma: "Se o pecado não tem poder de lhe condenar, se a graça está de tamanha forma sobre você que nada pode lhe separar do amor de Deus, então porque é que você não vive em pecado praticando toda sorte de deleites? Se pelo pecado Deus em vez de nos punir, ele manifestou sua graça, "por que não dizemos: Façamos o mal para que venha o bem?" (Romanos 3:8) "Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça?".
(Romanos 6.15)
 
O que tais caluniadores não compreendem é que "a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis... Mas graças a Deus que, embora tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça". (Romanos 6.16,17,18)

Veja, irmão, que a promessa de Deus de nos fazer livres do pecado, ele começa a operar em nós agora. Graças a ele (e não a nós!!) que tendo sido servos do pecado, somos libertos do poder do pecado por Deus, conforme a sua promessa.

E é aí que nós chegamos a questão de Tiago propriamente dita...

Veja que Paulo diz que "a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis... Isso significa que se alguém se não se apresenta a Cristo em obediência de vida, eu não posso o reconhecer como um servo de Cristo.

Como Paulo vai dzer depois também: Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna".(Gálatas 6:7-8) "Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto não sejais participantes com eles" (Efésios 5:6-7) "Mas agora vos escrevo que não vos comuniqueis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem sequer comais". (1 Coríntios 5.11) "Afirmam que conhecem a Deus, mas pelas suas obras o negam, sendo abomináveis, e desobedientes, e réprobos para toda boa obra". (Tito 1:16)
 
Veja que Paulo explicitamente diz que os servos de Cristo podem ser reconhecidos por nós como tal a partir de suas obras, pois "a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis..." Se alguém é servo de Cristo, ele obedece a Cristo e a partir daí reconhece-se que sua profissão de fé não é mentirosa, mas ele é reconhecido como justo diante de todos, não só pelo que ele diz crer, mas também pelas obras.

 

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