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domingo, 18 de dezembro de 2011

Orações impracatórias

Por Frank Brito


"Oxalá que matasses o perverso, ó Deus, e que os homens sanguinários se apartassem de mim, homens que se rebelam contra ti, e contra ti se levantam para o mal. Não odeio eu, ó Senhor, aqueles que te odeiam? e não me aflijo por causa dos que se levantam contra ti? Odeio-os com ódio completo; tenho-os por inimigos". (Salmo 139,19-22)

Muitos cristãos não compreendem porque muitos Salmos contem orações impracatórias contra os inimigos de Deus, pedidos para ser instrumento de Deus para a execução de tais ímpios e a comemoração dos justos pela vingança ter se consumado. A maioria responde a esta "estranheza" de duas formas:

a) Argumentam que isso é coisa do Antigo Testamento, que no Antigo Testamento havia autorização para a vingança pessoal, mas que depois da vinda de Jesus Cristo isso mudou e o que era reconhecido como louvável e justo, agora é reconhecido como sendo pecado. Acreditam que o Antigo Testamento era carnal enquanto o Novo Testamento é espiritual.

b) Argumentam que estes textos não devem ser lidos literalmente. Quando lemos sobre a pedra de Davi acertando a cabeça de Golias, devemos entender que Golias representa alguma dificuldade em nossas vidas.

Esta não é uma perspectiva correta. Os motivos são:

1) Deus não é uma metamorfose ambulante. Deus não muda. Ele não chama uma coisa de justa para algum tempo depois chamar de injusto. Ele não tem indecisões sobre o que é ou não é. Como está escrito: "Pois eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos". (Malaquias 3,6) Em Deus "não há mudança nem sombra de variação". (Tiago 1,17)

2) A pedra na cabeça na cabeça de Golias não era alegórica. Foi uma pedra real, esmigalhando uma cabeça real. Como o próprio Davi diz no Salmo: "Deus é para nós um Deus de libertação; a Jeová, o Senhor, pertence o livramento da morte. Mas Deus esmagará a cabeça de seus inimigos, o crânio cabeludo daquele que prossegue em suas culpas". (Salmo 68,20-21)

3) NÃO é verdade que o Antigo Testamento autorizava a vingança PESSOAL. A Lei diz: "Não odiarás a teu irmão no teu coração... Não te vingarás nem guardarás ira... mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor". (Levítico 19,17-18) Como está escrito TAMBÉM no Antigo Testamento: "Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe pão para comer, e se tiver sede, dá-lhe água para beber..." (Provérbios 25:21)

Mas fica a pergunta: Como então compreender estes textos?

A falta de compreensão destes textos existe por um motivo: A falta de compreensão da função dos magistrados TANTO no Antigo QUANTO no Novo Testamento. É verdade que a Bíblia não autoriza que indivíduos se vinguem de seus inimigos. Mas é IGUALMENTE VERDADEIRO que a Bíblia ORDENA que OS MAGISTRADOS executem tal vingança:

"Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela; porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, TEME, pois não traz debalde A ESPADA; porque é ministro de Deus, e VINGADOR em IRA contra aquele que PRATICA O MAL". (Romanos 13,3-4)

Cidadãos comuns não tem o direito de se vingar de ninguém. Mas os magistrados tem, sob Deus, o direito de vingar, punir e em determinadas circunstâncias EXECUTAR os malfeitores (como no caso de Davi e Golias). Assim, os que não são malfeitores, mas fazem o bem são protegidos e podem viver em paz e segurança. Esta é função dos magistrados diante de Deus.

Davi era o rei de Israel. Por isso, ele tinha a obrigação diante de Deus de punir os criminosos de Israel e também proteger Israel de ameaças estrangeiras. Deixar de fazê-lo seria rebelião contra Deus. Ele não deveria somente fazê-lo como deveria também orar para que sempre fosse feito segundo a vontade de Deus, de quem ele era representante. Isto é o que vemos em muitos Salmos.

Isso não era uma obrigação de Davi somente. É uma obrigação de todos os que estão em posição de autoridade em nosso próprio tempo. Pois "não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus". (Romanos 13,1) E nós que não somos autoridades e por isso não temos o poder da espada, ainda assim devemos orar sem cessar por aqueles que são nossos governantes, para que cumpram fielmente com suas responsabilidades:

"Exorto, pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e sossegada, em toda a piedade e honestidade. Pois isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador". (I Timóteo 2.1-3)