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domingo, 6 de fevereiro de 2011

A visão pós-milenista (que usa o preterismo parcial como ferramenta)pode ser considerada uma heresia??

É comum, em embates teológicos, a posição do adversário ser



menosprezada, ridicularizada e mal-interpretada. Se o menosprezo e


ridicularização forem provenientes da conclusão lógica da posição defendida,


isso não é de todo errado. Contudo, se a posição ora atacada parecer absurda


somente mediante uma má-interpretação da mesma, o opositor não é apenas


covarde e ignorante, mas também caluniador. E se a posição difamada for


uma doutrina bíblica, o caluniador é culpado também de blasfêmia.






Um problema comum, infelizmente, na análise que muitos autores


fazem de certas doutrinas ditas cristãs é a rápida rotulação de heresia sobre


tudo aquilo que diverge do que tais pessoas crêem. Algo errado, não é


necessariamente herético. Por exemplo, o arminianismo é heresia porque ele


tira a glória de Deus na salvação, e atribui ao homem, que é o grande


responsável pela sua própria salvação, pois tudo depende da sua “gloriosa”


decisão. O arminianismo também torna a Palavra de Deus mentirosa, pois


todos os textos que falam sobre eleição incondicional, graça irresistível,


expiação limitada e perseverança dos santos são menosprezados ou


distorcidos.


Contudo, esse não é o caso com todo erro doutrinário.


Para ilustrar o que foi dito acima, suponhamos que a Bíblia ensine que


podemos tocar toda sorte de hinos, contanto que os mesmos expressem as


doutrinas ensinadas na própria Bíblia. Contudo, sabemos que existem aqueles


que defendem a salmodia exclusiva, ou seja, que somente os Salmos da Bíblia


devem ser cantados no cântico congregacional. Assim, mesmo que alguém


discorde desses irmãos, tal pessoa nunca poderia chamar essa posição de


herética ou os seus defensores de hereges. Onde está a heresia deles? Em


exagerar o valor dos Salmos? É pecado supervalorizar a Palavra de Deus?


Aliás, é possível que supervalorizemos a Palavra de Deus? De forma alguma,


pois o seu valor é infinito e eterno. Dessa forma, qualquer pessoa que chame a


salmodia exclusiva de heresia, não é apenas um ignorante, mas talvez um


covarde (se distorce a mesma, para ter o que “refutar”), e com certeza um


blasfemo.






Quem acompanha as discussões teológicas no campo da escatologia,


seja em livros, na igreja ou entre amigos, certamente já sabe o que esse breve


artigo pretende questionar.






O pós-milenismo, a doutrina que ensina que Cristo virá após um


milênio glorioso na Terra, não é apenas ignorado, mas violentamente


criticado, e classificado como heresia perniciosa. É com pesar que reconheço


que muitos dos teólogos que admiro tomam essa atitude. E estou falando de


teólogos que defendem a Teologia Reformada, a mesma que outrora era


praticamente sinônima de pós-milenismo, visto que os seus principais


teólogos defendiam essa posição escatológica. Considerando o que o pósmilenismo


ensina, considero tais afirmações calúnias graves contra cristãos e


uma blasfêmia contra a Palavra de Deus e o próprio Deus.






Vejamos no que consiste o ensino do pós-milenismo, a fim de verificar


se ele é mesmo uma heresia, perniciosa para a Igreja de Cristo:


1) O pós-milenismo ensina que o Evangelho, que é o poder de Deus


para a salvação, terá sucesso em escalas mundiais, e influenciará toda a


sociedade humana. Por causa da influência do Cristianismo, o mundo gozará


de um grande período de paz e prosperidade. Por crer na depravação total do


homem, o pós-milenismo não crê que tais melhorias advirão da “evolução” do


homem, mas sim do poder de Deus, atuando mediante a Sua Palavra e o Seu


Espírito, regenerando corações, e sujeitando as nações à Cristo. Não obstante


muitos covardes dizerem que o pós-milenismo tem muito em comum com a


evolução, isso não passa de calúnia de quem comenta o que não conhece,


conforme podemos verificar analisando as obras de referência sobre o


assunto, quer antigas ou modernas. Embora nem todos serão salvos, o


Cristianismo será a norma da nossa sociedade, num tempo futuro


determinado por Deus.


Pergunta: É heresia crer que o Evangelho de Deus é tão poderoso


assim? É heresia crer que Deus pode converter e transformar a nossa


sociedade, ao ponto do Cristianismo verdadeiro ser dominante? É heresia crer


que Cristo continua conosco, ajudando-nos a cumprir a Grande Comissão, e


realmente salvando?






2) O pós-milenismo ensina que Jesus Cristo retornará pessoal e


visivelmente no final da história para julgar o mundo. Tal retorno será após o que chamamos de milênio, o período desde a primeira vinda de Cristo até a sua segunda vinda.


Pergunta: Qual é a heresia em se manter que Cristo virá após o


milênio? Amilenistas e pré-milenistas têm o direito de achar que estamos


errados nesse ponto, mas em que constitui a nossa heresia? Manter que algo


vem após o milênio é heresia? E porque o estado eterno das coisas, que todos


os cristãos defendem como algo vindo após o milênio, não é considerado


heresia?






3) O pós-milenismo ensina que a paz e a prosperidade que reinarão no


mundo serão resultados provenientes da conversão em massa de pessoas ao


Cristianismo. O Cristianismo não será apenas a crença comum, mas também a


prática. Em outras palavras, veremos o Cristianismo verdadeiro, que inclui a


prática da doutrina pregada.


Pergunta: Qual é a heresia em se esperar que o Evangelho produza os


frutos que são esperados mediante a sua pregação? É correto acreditar que o


Evangelho impactou profundamente a sociedade apenas nos primeiros


séculos da Igreja e na época da Reforma? Todas as outras eras da igreja estão


destinadas a terem igrejas cheias de hipócritas, que não vivem o que pregam?


Ortodoxia significa esperar e crer que cada vez mais teremos aqueles que


vivem o que pregam, mas cuja pregação são baboseiras irracionais e antibíblicas?


Cristo prometeu que Ele estaria conosco até a consumação de tudo,


e não há nada mais justo do crer nisso. Deus afirmou que a Sua Palavra não


voltará vazia, e prometeu entregar as nações a Cristo (Sl. 2:8), e a Sua Igreja


não se envergonha de crer nisso.






Há muitas outras coisas que o pós-milenismo ensina, mas as mesmas


serão omitidas por não constituírem doutrinas particulares dessa posição


escatológica. Por exemplo, os pós-milenistas crêem que os mil anos de


Apocalipse não devem ser interpretados literalmente, mas sim como


significando um grande período de tempo; contudo, essa é a mesma visão do


amilenismo. Ambos ensinam que Deus tem um único povo, constituído de


judeus e gentios, e que a Igreja não é um parêntese na história da humanidade,


mas sim algo projetado por Deus na eternidade, e presente no Antigo e no


Novo Testamento. Por causa dessas similaridades, é decepcionante ver as duras críticas que o pós-milenismo tem recebido da parte de amilenistas, o que


expõem a ignorância ou puro preconceito destes.






Diante de tudo isso, pergunto: onde está a heresia do pós-milenismo?


Crer num Deus grande demais? Crer numa Palavra excessivamente poderosa?


Crer num Evangelho eficaz? Crer que nada é impossível para Deus, muito


menos aquilo que Ele prometeu?






Seja qual for o fator motivador, não há justificativa bíblica nem racional


para rotular o pós-milenismo de heresia. Tal avaliação é procedente de uma


mente deturpada, que não sabe analisar fatos e doutrinas à luz da Escritura.


Alguns podem intentar com isso causar aversão nos cristãos a essa posição


escatológica (o que é comum vermos!), para que os mesmos encarem os


argumentos bíblicos e teológicos do pós-milenismo com pré-conceito e


avaliações (equivocadas) já formadas, mas isso também é pecado. E essa


aversão é uma das principais causas de caricaturas do pós-milenismo, pois


muitos acabam criticando o que não conhecem. É hilário ver que pessoas que


nunca leram uma obra completa sobre pós-milenismo criticam o mesmo,


como se já tivessem analisado e refutado essa posição à luz das Escrituras.


Caro leitor, coloque a mão na boca antes de proferir algo sobre uma


doutrina cujo suposto erro é atribuir poder e honra em excesso a Deus,


Cristo, o Espírito Santo e a Sua Palavra.


Se você é um pós-milenista, e possui amigos que criticam essa posição, pergunte se


eles já leram e estudaram com afinco um dos livros abaixo. Se não, peça para deixarem de


calúnias:He Shall Have Dominion: A Postmillennial Eschatology, de Kenneth L.


Gentry, Jr


Postmillenialism: An Eschatology of Hope, de Keith A. Mathison,


Thine is the Kingdom: A Study of the Postmillennial Hope, de Kenneth


L. Gentry (editor)


An Eschatology of Victory, de J. Marcellus Kik










Felipe Sabino de Araújo Neto.
 
Claro que o pós-milenismo não é uma heresia. Aliás, muito pelo contrário, é bastante coerente e viável